terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O fogo


Junho.
A relação de Cat com Melro tinha acabado, mas ele insistia em encontros cada vez mais inoportunos.
Sempre que tentava dizer-lhe que ficava incomodada com a insistência, ele olhava para ela com os seus olhos de cãozinho triste, deixando-a desarmada.
Acedeu mais uma vez em encontrar-se com ele para jantar.
Ele pediu que fossem a casa dele, em vez de irem a um restaurante.
Não querendo magoa-lo, disse que sim, relembrando-o que eram apenas amigos.
Ele foi busca-la.
Ao chegarem a casa, serviu-lhe uma sangria bastante doce e fresca.
Foram conversando e bebendo, enquanto ele fazia o jantar.
Quando começaram, Cat serviu-se mas mal tocou na comida.
Sentia-se um pouco tonta.
O açúcar disfarçara o grau alcoólico da sangria.
Comeu mais um pouco, com esforço, para ver se a sensação passava, mas sem muito sucesso.
Pediu-lhe para saírem por um momento, para poder apanhar um pouco de ar fresco.
Quando ia a passar por ele, para sair da mesa ele estendeu a mão e acariciou-a no pescoço.
Ela recuou, batendo com as costas na parede.
Ele levantou-se, avançando para ela tentando beijar-lhe os lábios.
O olhar dele assustou-a.
Já não era de caramelo, mas de um castanho vivo, com um laivo de raiva contida.
Desviou a cara e sentiu a mão dele no seu pescoço, descendo para o ombro por dentro da roupa.
O instinto de defesa tomou conta dela.
Sem ver onde acertava, empurrou-o para longe, com os joelhos e os braços e saiu de casa dele de rompante.
Lembrou-se que não tinha a mala com ela.
Voltou para trás e viu-o sentado, dobrado sobre si, emitindo pequenos gemidos de dor.
Agarrou na mala e saiu novamente.
A noite fazia as sombras das árvores avançar sobre ela, à medida que seguia com rapidez na berma da estrada.
No acesso até à estrada principal, não viu luzes que pudessem indicar que ele a seguira, mesmo assim seguiu por dentro da vegetação para evitar ser vista.
O calçado não era o indicado. Ia tão enraivecida que nem sentia as picadas das silvas, invisíveis no meio da escuridão.
Viu ao longe a estrada principal, onde existia um pequeno café.
Apressou o passo.
Queria lá chegar antes de pensar a quem poderia ligar para pedir boleia.

O fogo deve ser libertado em pequenas doses como se fossem fósforos.
Milhares de fósforos acesos simultaneamente, são impossíveis de controlar, provocando um enorme incêndio.















segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Os pequenos gestos



Seguindo a historia da nossa amiga Cat.

O vicio ficou.
Depois da aventura com João a saudade do cheiro e do calor de outro corpo colado no seu.
Tentar controlar essas sensações era como tentar fechar uma garrafa de champagne depois agitada.
Decidiu ser verdadeira consigo própria e não o tentar.
Há quatro anos conhecera acidentalmente Paulo Melro.
Ele sempre demonstrara por ela um interesse alem de amizade, mas ela nunca lhe dera qualquer hipótese.
Melro aparecia de tempos a tempos, sempre com o seu ar de cãozinho triste, para irem beber um café.
Era uma pessoa sem fogo aparente.
Todos os seus gestos pareciam limados, sempre com medo duma atitude que pudesse ser mais ousada.
Cabelo negro, olhos doces, cor de caramelo e um corpo com músculos bem delineados, não era desagradável no conjunto, mas o olhar não tinha brilho.
Em algumas ocasiões, parecia que havia ainda uma réstia de chama, mas logo voltava ao mesmo olhar enjoativo de caramelo devoto.
O instinto de Cat, sempre seguro, desta vez não a deixava ter certezas para tomar uma decisão.
Tinha alguma esperança que com o estímulo correcto, ele poderia sair desse marasmo.
A curiosidade acerca dele começou a aumentar, proporcional à frequencia dos encontros.
Deixou passar algum tempo.
Começou a dar atenção a pequenos gestos involuntários, como um ajeitar nervoso do cabelo quando ela o olhava nos olhos, a maneira como parecia engolir em seco, quando no meio de uma conversa mais animada ela lhe tocava no ombro, ou um leve rubor quando o cumprimentava à chegada.
Esse dia tinha sido especialmente cansativo no trabalho e Cat estava decidida a esquece-lo.
Quando o telemóvel tocou, saiu a correr do duche, encharcando o chão à sua passagem.
O frio cortava a pele molhada, mesmo dentro de casa, fazendo-a tremer.
Quando Melro a convidou para tomar mais um dos já numerosos cafés, decidiu mudar um pouco o destino e convidou-o para vir a sua casa.
Ele chegou sem quase lhe dar tempo de se vestir.
Convidou-o para entrar e ele inclinou-se para lhe beijar a face.
Sózinhos na sala, sentaram-se no sofá, num silencio um pouco incomodativo.
Ao fim de alguns instantes, ele sempre preocupado disse: - Não te incomoda o cabelo molhado com este frio?
Cat mostrou a nuca molhada e Melro encostou timidamente a mão.
- Estás tão fria!
- A tua mão á que está muito quente.
Ele deixou-a ficar por um momento, retirando-a quase de seguida.
Cat olhou para ele e sorriu.
- Agora que estava tão bom é que tiraste a mão...
Ele olhou para ela com ar de quem não sabia como reagir.
Cat aproximou-se dele devagarinho e puxou-o para ela, abraçando-o.
- Assim estás a provocar-me e não devias se não queres nada comigo.
- Mas quem disse que não quero?
Ele olhou para ela incrédulo.
- Tens dito sempre que não durante este tempo todo, pelo menos é o que tenho notado pelas tuas reações.
- O que tenho dito sempre e mantenho, é que continuo presa a outra pessoa, por isso não estou apaixonada por ti, o que não invalida que nos possamos relacionar fisicamente.
- Só fisicamente?
- Sim.
Ele ficou estático a olhar para Cat.
Os olhos de caramelo continuavam doces.
Cat não viu a esperada faísca, nem mesmo um ténue brilho.
Durante o tempo que estiveram juntos, todos os pequenos gestos que eram involuntários evoluiram.
Primeiro começou a reparar neles apesar de a enervarem um pouco.
Depois começou por lhes achar piada, pois eram a única forma de saber se ele estava feliz ou nervoso.
Ao fim de algum tempo, começou a desejar que não os fizesse, pois sendo a única forma de reacção, começaram a ficar grandes demais para serem apenas pequenos gestos, passando a grandes tiques nervosos.
Não deixem nunca que as bofetadas que levamos da vida nos inibam a expressão corporal.
A maior expressão da nossa alma, não é a palavra. São todos os nossos pequenos grandes gestos.






domingo, 24 de fevereiro de 2008

Magia do sexo


Não há verdades absolutas, apenas as minhas opiniões acerca de factos passados a que assisti, directa ou indirectamente.
Quando encontramos e reconhecemos a nossa alma gémea, nem sempre o nosso destino será ficar com ela nessa altura.
Ficamos assim com a alma presa, pois apesar de a reconhecermos como o nosso par, sabemos que os nossos estados de evoluçao não são iguais, e por isso um de nós tem que evoluir sozinho em vivencias diferentes.
Mas apesar de amarmos essa pessoa o suficiente para ficarmos felizes, só de a ver feliz, mesmo que com outra pessoa, durante um tempo temos o nosso periodo de "não vida".
A "não vida" é uma altura em que nos deixamos simplesmente ficar, sem ter vontade de ter relacionamentos com outras pessoas que não sejam a que nós amamos.
Já vi periodos de "não vida" durarem minutos, dias, meses e até anos.
O que aqui relato durou oito anos.
Cat é a nossa heroina.
Oito anos sem sexo, abraços, ou mesmo um unico beijo na boca.
Foi muito tempo... o que criou um hábito de defesa.
Não permitia a entrada de homens num perimetro que não fosse o da amizade.
Até conhecer uma pessoa especial.
Bandido por natureza, tem fama de conseguir todas as mulheres que quer.... e ele quer muitas.
Fisicamente, nada de especial.
Pele morena, olhos verdes e uma estatura um pouco baixa e robusta.
Podemos chamar-lhe João.
João não estava dentro do tipo de homens que habitualmente atraia Cat.
Conheceram-se no MSN, por intermédio de um amigo comum e começaram a falar.
As conversas foram ficando cada vez mais intimas, pois o facto de as pessoas não se olharem nos olhos consegue quebrar alguns tabus, que existem numa convivencia normal.
Estas novas formas de contacto são sempre ambiguas. Por um lado existe o perigo de não sabermos quem está do outro lado, por outro a facilidade em contar coisas que pessoalmente nunca seriam ditas.
Mas o interesse de Cat não era real. Apenas se começava a sentir viva, por haver um flirt com uma pessoa que ela sabia dizer exactamente o que precisava de ouvir.
João é especial, exactamente por isso.
Mesmo tendo perfeita consciencia que estava a ser seduzida, Cat começou a sentir-se bem em baixar as defesas finalmente.
Na véspera de Natal, decidiu ligar-lhe para desejar um Bom Natal.
Finalmente, o contacto auditivo.
Não tinha uma voz tão segura, como o discurso escrito, mas a jovialidade dessa voz fazia-a desejar deixar de ter medo do contacto.
Deixou passar algum tempo e finalmente encontraram-se de novo no MSN.
Cat pensou não ter nada a perder e conheceram-se pessoalmente nesse mesmo dia, com a segurança confortável de estarem com mais alguns amigos.
Faltavam duas noites para a passagem de ano.
Ao primeiro contacto Cat manteve o desejo.
Estudou o cheiro, o olhar, a linguagem corporal.
João o bandido, afinal não era mais que um miudo assustado.
Mas um miudo sexy e atraente.
Pensou como afinal gostaria que o encontro tivesse sido em privado.
Não houve muito assunto, somente a análise da expressão.
Quando o encontro acabou, Cat ficou um pouco insegura.
O medo de não ter agradado começou a passar pela sua cabeça, fruto de todos os anos sem contacto fisico.
O que parece ser a nossa melhor defesa, deixa feridas graves na nossa autoestima.
Passaram dois dias.
Era a noite da passagem de ano 2006/2007.
Foi uma noite um pouco melancólica para Cat, por isso decidiu deitar-se a seguir à meia noite.
Já tinha deixado de pensar em João, convencendo-se que ele tinha ficado desiludido de alguma forma.
Às três e meia da madrugada o som do telemóvel fez Cat acordar.
Era João.
-Posso ir ter a tua casa?
A pergunta fez Cat ficar com o batimento cardiaco acelerado como se fosse um guerreiro e se preparasse para entrar numa batalha.
Acedeu.
Não fizeram amor. Fizeram sexo.
Sem medo das palavras e das recriminações de uma relação, o sexo não é uma coisa feia.
As más intenções e o mau sentido do sexo é a nossa sociedade hipócrita que os cria.
Não existe mal nenhum em fazer sexo só porque sim.
Sexo não é nem o que nos motiva, nem o fim do mundo, mas sim e apenas duas (ou mais) pessoas que precisam de se sentir tocadas e tocar, sem preconceitos ou falsas morais.
A vantagem que Cat tirou dessa noite, foi que a sua autoestima ficou quase refeita.
A desvantagem foi que a sensação de euforia que provoca, é viciante.
Mas mesmo com essa pequena desvantagem.... Obrigada João, por teres deixado a Cat viva de novo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Magia do Amor

Toda a civilização é baseada no Amor. Quer seja amor por alguém, por um animal, ou até por um objecto, só o amor tem o poder de mover o mundo. É o Amor que nos leva a ter força para triunfar e superar todos os obstáculos e é a falta dele que provoca as frustrações, os bloqueios...que nos fazem desanimar. No presente, não é dada ao amor a devida importância. A falta de capacidade de amar o próximo, faz com que muita gente viva sem a sua própria Luz interior, invejando todos à sua volta que ainda têm essa Luz. Essa inveja é causadora de uma carga energética negativa, que prejudica, tanto os que invejam, como os que são invejados. Amor é magia. Amor é Luz e é Bem. Ainda há os que não têm medo de Amar, mas que de alguma forma se sentem oprimidos e necessitam de uma pequena ajuda para se libertarem de todas as cargas negativas. A magia tem que ser encontrada dentro de nós. Não há magia maior do que a nossa própria vontade. Expressem todo o Amor que sentem, sem medo. Dificil, é só a primeira frase...

Tarde

Decidi criar este blog, talvez um pouco tarde.
Nesta vida já ouvi contar muitas historias de amigos, mas nenhuma me tocou tanto como a vida de Cat.
Acho que num mundo hipócrita como o de hoje, é bom ver que ainda existem pessoas que fazem o que lhes apetece, apesar dos julgamentos a que estão sujeitas.
Nunca achei que fosse sábia ou maga, até poder ver que algumas das coisas que ela me contou podem interessar a alguém.
Decidi divulgar, pois se não existir por ai algum ser a que se identifique com elas, podem pelo menos fazer-vos rir, o que nesta vida por vezes tão cinzenta só faz é bem.... mesmo que tenhamos que nos rir de nós próprios.
A quem me conhece....
Sem medo, porque não existem nomes.... apenas momentos.
Tudo o que conto aqui é verdadeiro, apesar de ser só contado por um dos protagonistas, e por isso só uma das versões, por vezes um pouco romanceada.
Para quem gosta de pequenos episódios, aqui vão alguns.