Seguindo a historia da nossa amiga Cat.
O vicio ficou.
Depois da aventura com João a saudade do cheiro e do calor de outro corpo colado no seu.
Tentar controlar essas sensações era como tentar fechar uma garrafa de champagne depois agitada.
Decidiu ser verdadeira consigo própria e não o tentar.
Há quatro anos conhecera acidentalmente Paulo Melro.
Ele sempre demonstrara por ela um interesse alem de amizade, mas ela nunca lhe dera qualquer hipótese.
Melro aparecia de tempos a tempos, sempre com o seu ar de cãozinho triste, para irem beber um café.
Era uma pessoa sem fogo aparente.
Todos os seus gestos pareciam limados, sempre com medo duma atitude que pudesse ser mais ousada.
Cabelo negro, olhos doces, cor de caramelo e um corpo com músculos bem delineados, não era desagradável no conjunto, mas o olhar não tinha brilho.
Em algumas ocasiões, parecia que havia ainda uma réstia de chama, mas logo voltava ao mesmo olhar enjoativo de caramelo devoto.
O instinto de Cat, sempre seguro, desta vez não a deixava ter certezas para tomar uma decisão.
Tinha alguma esperança que com o estímulo correcto, ele poderia sair desse marasmo.
A curiosidade acerca dele começou a aumentar, proporcional à frequencia dos encontros.
Deixou passar algum tempo.
Começou a dar atenção a pequenos gestos involuntários, como um ajeitar nervoso do cabelo quando ela o olhava nos olhos, a maneira como parecia engolir em seco, quando no meio de uma conversa mais animada ela lhe tocava no ombro, ou um leve rubor quando o cumprimentava à chegada.
Esse dia tinha sido especialmente cansativo no trabalho e Cat estava decidida a esquece-lo.
Quando o telemóvel tocou, saiu a correr do duche, encharcando o chão à sua passagem.
O frio cortava a pele molhada, mesmo dentro de casa, fazendo-a tremer.
Quando Melro a convidou para tomar mais um dos já numerosos cafés, decidiu mudar um pouco o destino e convidou-o para vir a sua casa.
Ele chegou sem quase lhe dar tempo de se vestir.
Convidou-o para entrar e ele inclinou-se para lhe beijar a face.
Sózinhos na sala, sentaram-se no sofá, num silencio um pouco incomodativo.
Ao fim de alguns instantes, ele sempre preocupado disse: - Não te incomoda o cabelo molhado com este frio?
Cat mostrou a nuca molhada e Melro encostou timidamente a mão.
- Estás tão fria!
- A tua mão á que está muito quente.
Ele deixou-a ficar por um momento, retirando-a quase de seguida.
Cat olhou para ele e sorriu.
- Agora que estava tão bom é que tiraste a mão...
Ele olhou para ela com ar de quem não sabia como reagir.
Cat aproximou-se dele devagarinho e puxou-o para ela, abraçando-o.
- Assim estás a provocar-me e não devias se não queres nada comigo.
- Mas quem disse que não quero?
Ele olhou para ela incrédulo.
- Tens dito sempre que não durante este tempo todo, pelo menos é o que tenho notado pelas tuas reações.
- O que tenho dito sempre e mantenho, é que continuo presa a outra pessoa, por isso não estou apaixonada por ti, o que não invalida que nos possamos relacionar fisicamente.
- Só fisicamente?
- Sim.
Ele ficou estático a olhar para Cat.
Os olhos de caramelo continuavam doces.
Cat não viu a esperada faísca, nem mesmo um ténue brilho.
Durante o tempo que estiveram juntos, todos os pequenos gestos que eram involuntários evoluiram.
Primeiro começou a reparar neles apesar de a enervarem um pouco.
Depois começou por lhes achar piada, pois eram a única forma de saber se ele estava feliz ou nervoso.
Ao fim de algum tempo, começou a desejar que não os fizesse, pois sendo a única forma de reacção, começaram a ficar grandes demais para serem apenas pequenos gestos, passando a grandes tiques nervosos.
Não deixem nunca que as bofetadas que levamos da vida nos inibam a expressão corporal.
A maior expressão da nossa alma, não é a palavra. São todos os nossos pequenos grandes gestos.
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