quinta-feira, 10 de abril de 2008

Virtual day after


E depois?
Depois da primeira noite de sexo, com uma pessoa com a qual não temos outro tipo de relação, o que se faz?
Há algum tempo, quando não havia o refúgio do MSN, havia a expectativa do "after sex".
Será que ele vai ligar?
Será que vai marcar um novo encontro?
Será que o primeiro beijo vai ser na boca, o que anuncia interesse numa relação, ou será que vai ser um casual cumprimento na face, anunciando assim uma relação também ela casual?
Hoje em dia, a primeira questão é: Se estivermos os dois online, será que ele me vai cumprimentar?
A segunda é semelhante: Será que vamos marcar um novo encontro?
Tudo o resto perdeu-se, porque se for marcado um novo encontro, é porque vai haver sexo, por isso o beijo, sendo ele na boca ou não, deixa de ser significativo.
As novas tecnologias de comunicação, podem ter tirado um pouco de brilho a essa expectativa, por outro lado, enriqueceram os beijos. Tirando importância ao beijo na boca, abriram um corpo inteiro de locais para beijar. Porque beijar a boca, quando se pode beijar um corpo inteiro?
Cat, continuando um pouco presa por uma vida inteira de regras sociais, evitou iniciar conversação com José, apesar de ter vontade de lhe escrever um "olá" na janela.
Esperou um pouco, para logo decidir fazer o que tinha vontade. José respondeu imediatamente: -Olá! Estava a ver que não me falavas hoje!
Cat sorria ao mesmo tempo que iam trocando mensagens.
A conversa foi evoluindo, cada vez mais intima, de tal maneira que sentia o seu corpo corresponder, como se estivessem lado a lado. Sempre achara estranha, e até um pouco doentia a forma como alguns amigos lhe descreviam manter relações de sexo virtual, mas naquele momento começava a perceber que poderia ter-se precipitado nesse julgamento.
Só com as palavras de José, sentia-se completamente excitada, com pequenas ondas de um prazer, muito mais subtil, mas nem por isso menos agradável. Compreendeu então que tomara a atitude mais correcta. Não se deve opinar sobre nada, se não se tiver passado pela experiência.
Não sabia como tudo iria acabar, mas sabia que dificilmente se esqueceria como podemos viver presos no preconceito, sem darmos conta que estamos completamente sufocados por ele.

Durante a conversa, nunca se tocou, mas sentiu o seu corpo reagir em cálidas ondas de prazer, com se as mãos de José o acariciassem suavemente.
A mente humana é o nosso órgão sexual mais potente. Tudo o resto é comandado pela nossa imaginação.
E a nossa imaginação não tem limites....

segunda-feira, 31 de março de 2008

O Anjo



Cat esperou ansiosa pela hora de se encontrar com José.
Ansiava por ouvir de novo a sua voz macia.
Ao chegar e quando ele lhe disse "boa noite", sentiu-se derreter por dentro.
Falaram durante algum tempo, mas Cat não tomou atenção às palavras, apenas olhava para os lábios de José, imaginando-os a beijar o seu corpo.
Notou que José tinha parado de falar, e fez um esforço para retomar a conversa, perguntando se ele estava cansado.
-Sim, estou um pouco cansado - respondeu José.
- Queres uma massagem nas costas?
José acedeu.
Cat colocou as mãos nos seus ombros, sentindo os músculos tensos por baixo da t-shirt.
A medida que massajava, sentia-se aquecer por dentro.
Notou que a massagem o deixava levemente trémulo.
Massajou-lhe os ombros, e sem se conseguir conter mais, passou os lábios ao de leve roçando-os pelo pescoço e pela nuca.
- Queres que pare? - perguntou Cat.
- Não. Podes fazer o que quiseres...
- Tudo?
- Sim... o que quiseres.
Cat roçou novamente os lábios mas desta vez entreabriu-os, e percorreu o pescoço de José com a sua língua húmida e quente.
Com meiguice, tirou-lhe a t-shirt, e percorreu com a língua as suas costas, continuando a massajar com as mãos.
Beijou-lhe a barriga, passando levemente a língua.
Tentou abrir as calças de José, mas o cinto não a deixou fazê-lo.
Ele sorriu e abriu a fivela.
Cat beijou-lhe os lábios sentindo com a sua mão o seu pénis erecto.
José tinha uma maneira de colocar as mãos nas suas costas que a faziam sentir-se completamente abraçada.
Era uma sensação indescritível.
José parecia saber exactamente a maneira melhor de a fazer sentir-se excitada, como se aquela não fosse a primeira vez que se tocavam.
Todas as suas inibições e bloqueios, pareciam não fazer sentido quando estava com ele.
Quando ele a penetrou, sentiu que o seu corpo explodia de prazer, e foi pedindo mais e mais, tentando prolongar aquela sensação.
Finalmente conseguíra libertar-se por completo.
Há pessoas que são colocadas no nosso caminho, para nos tornarmos melhores, mais completos.
Essas pessoas são anjos, mesmo que elas próprias não o saibam.

O Bem e o Mal


Existe na cabeça das pessoas uma luta bem definida entre o Bem e o Mal.
Na realidade as coisas não são assim tão lineares.
Em Agosto, o Verão decorria quente e cansativo.
Cat chegava sempre exausta do trabalho, e passava o resto da noite a fazer amizades no MSN, pois isso permitia-lhe descansar o seu corpo moído.
Aceitou um pedido de amizade de uma portuguesa emigrada em Inglaterra, que voltara há pouco para Portugal, e não conhecia cá muita gente.
Ao início achou-a engraçada, pois falava de uma forma desinibida acerca de assuntos que a maioria consideram tabus.
Teresa falava sempre de sexo, tanto que já se tornava cansativa.
Uma noite ela pediu para falarem a três, apresentando-a assim a um amigo.
Foi dessa forma que Cat conheceu José.
No primeiro dia, achou-o timido e misterioso demais, por isso desconfiou que pudesse ser alguém conhecido a pregar uma partida.
Saiu da conversa bruscamente.
Teresa contactou-a noutra janela a perguntar o que se tinha passado.
Desfeito o engano, começaram a conversar e em breve ficava amiga de José.
Havia alguma coisa nele, que a cativava.
Ao mesmo tempo Teresa tornara-se inconveniente, tentando seduzir Cat, para fazerem sexo com um homem.
Decidiu evitar mais conversas com ela, pois começava a sentir-se invadida.
Mesmo sem Teresa, continuaram a conversar e a enviar mails.
Ao fim de alguns dias, percebeu que se tratava de um colega de João.
Achou piada à coincidência, mas decidiu não ligar ao assunto.
Uma noite que ele estava a trabalhar, decidiu ir conhece-lo pessoalmente.
Apesar de ter uma ideia do caminho, pediu informações a José, pois não se conseguia recordar dos pormenores.
Ao vè-lo, achou que as fotos não lhe faziam justiça, pois era muito mais atraente.
De estatura média, e uns doces olhos verdes, apresentava evidentes sinais de nervosismo.
Ao cumprimentar José com dois beijos na face, sentiu o seu cheiro incrivelmente sexy.
Sentiu-se corar um pouco e tentou não pensar nisso, pois não queria que ele se apercebesse dos seus pensamentos.
Conversaram durante horas.
José tinha um efeito calmante e fazia-a sentir que já o conhecia há anos.
Apesar de ser mais novo que ela, a calma do seu carácter denunciava uma alma que já devia circular neste mundo há bastantes séculos.
Notou que ele evitava tocar-lhe.
Decidiu provocar alguma reacção e falou-lhe de um problema que tinha no pulso, pedindo-o que ele o envolvesse com a mão para sentir os ossos a estalarem, e ele hesitou.
Perguntou-lhe porque não o fazia, ao que ele respondeu que tinha prometido não lhe tocar.
Cat sorriu e disse não haver problema.
José estendeu a mão rodeando-lhe o pulso.
Cat teve que se conter, para não estremecer com o toque da mão de José.
Era uma mão macia e quente.
Já há muito tempo que não sentia um toque tão envolvente.
Desejou que ele a puxasse para si e a beijasse, mas manteve a aparência desinteressada.
Estava-se a fazer tarde, por isso combinaram encontrar-se de novo no dia seguinte.
Cat saiu e pensou como era estranha a coincidência de trabalharem os dois no mesmo sítio, mas preferiu mais uma vez não dar importância ao facto.
Também achava estranha toda a conversa de Teresa acerca de sexo e a maneira como foram apresentados.
Mesmo assim sabia reconhecer uma boa pessoa, e era isso que José era.
E pensou que por vezes, o Bem tem maneiras estranhas de se manifestar.
Muitas vezes uma coisa que nos parece estranha, é exactamente o que nos traz mais prazer.




quarta-feira, 19 de março de 2008

Mensagem trocada


Cat chegou a casa depois daquele jantar enervante.
Arranhada e suada decidiu tomar um duche para tentar recuperar a boa disposição.
Deixou a água correr afastando a má energia.
Ficou um pouco mais relaxada, mas ainda não conseguiria dormir.
Sentou-se em frente do computador, e ligou-o.
Abriu o MSN e viu quem estava online antes de se tornar visível.
Precisava de falar a alguém sobre o sucedido.
Viu João, mas decidiu que não era com ele que queria falar.
Viu também a sua amiga Luisa, e iniciou a conversa.
Começou a contar o que se tinha passado com Melro.
Luisa ia respondendo com alguma lentidão, o que a confundiu um pouco, pois não era costume.
No rodapé do seu monitor apareceu uma janela laranja.
Era João.
Decidiu não responder.
Outro som anunciou uma entrada online.
Era Melro, que acabava a iniciar a sessão.
Antes que pudesse sair, apareceu uma janela de conversação.
- Espero que estejas feliz com o que fizeste!
Sentiu-se ferver de irritação.
Cat foi respondendo a Melro, com fúria, enquanto ia contando o que se estava a passar à sua amiga Luisa.
No meio dessa agitação, não reparou que uma das mensagens iradas que mandava para Melro, tinha sido escrita por engano na janela de João.
A resposta foi imediata.
Cat pediu-lhe desculpa, explicando o engano.
João respondeu que ela parecia precisar de descontrair, e perguntou se não queria encontrar-se com ele.
Cat pensou por uns momentos, hesitante.
Apesar de tudo apetecia-lhe descontrair e João era a pessoa indicada para a fazer esquecer aqueles incidentes desagradáveis.
Aceitoou o convite de João.
Vestiu uma roupa simples e saiu.
O ar da noite estava fresco, mas apesar disso sentia-se um pouco zonza.
Pensou que talvez não fosse prudente pegar no carro, mas agora que tinha decidido ir, sentia um grande desejo de estar com João.
O carro parecia seguir sozinho pela autoestrada, pois os seus pensamentos voavam dentro da sua cabeça.
Durante o jantar com Melro, sentira-se como se fosse a presa de um caçador, mas agora o seu instinto fazia-a sentir-se o próprio caçador.
Saiu da autoestrada pelo acesso que João lhe indicara, e tentou seguir as direcções que este lhe dera.
Ele estava a trabalhar, por isso não conhecia o sítio onde tinham combinado.
O facto de ser um locao de trabalho, em vez de a fazer sentir-se constrangida, dava ao encontro um apelativo sabor a fruto proibido.
Absorta nesses pensamentos, foi seguindo o caminho e em breve reparou que estava perdida.
Ligou para ele.
Quando ele atendeu, a sua voz jovial, provocou-lhe um arrepio de excitação.
- Estás perdida?... Pois ... Não conheces bem este lugar...
Retomou o caminho e em breves instantes chegou perto de João.
Ele veio busca-la à porta.
- Vem atrás de mim... não podes ser filmada pelas câmaras de vigilância.
Seguiu-o, sentindo-se um pouco tonta, pois o seu corpo ainda não eliminara totalmente a sangria que bebera ao jantar.
Ele andava depressa e ao tentar segui-lo, estava a ficar cada vez mais tonta.
- Espera! - disse - Deixa-me apoiar no teu ombro.
Ele olhou para ela e sorriu.
Um sorriso bonito, que lhe dava um ar quase infantil.
Ela estendeu a mão para o ombro de João, e ele atrasou um pouco o passo.
-Eu sei o que se passou...- disse João - Eu estava a falar com a Luisa e ela contou-me tudo.
Cat sorriu e percebeu porque razão ele a convidara. Era a forma que encontrara de a proteger e de a tentar animar.
Pensou que nunca mais chegavam, e sentia-se tão zonza, com tantas voltas que se quizesse sair de lá, não sabia se conseguiria.
Passaram uma porta, no final de umas escadas e entraram numa sala enorme e escura, com apenas uma mesa e algumas cadeiras.
- O que é este sítio? - perguntou Cat.
- Nada. Um escritório que não está a ser utilizado.
Cat pousou a mala numa das cadeiras e virou-se de costas para João, para tirar o blusão.
João encostou-se as suas costas, rodeando-lhe a cintura com os braços e puxou-a para ele com meiguice.
Beijou-lhe a nuca e sussurou ao seu ouvido: - Vem cá...
Cat virou-se procurando a boca de João com os seu lábios húmidos.
Beijaram-se meigamente
Cat estranhou um pouco, pois ele sempre fora muito mais carnal.
Toda a dureza que aparentava normalmente, era anulada pela meiguice dos seus beijos.
Abraçou-o, deixando que a boca dele percorresse o seu pescoço e o peito.
Sentindo a rigidez dos seus mamilos João, apertou-os levemente com a ponta dos dedos fazendo-a estremecer.
As mãos de João foram descendo, pela sua barriga e até ao interior de suas coxas, onde afastaram ligeiramente as pernas de Cat.
Cat correspondeu afastando as pernas e expondo o seu clitóris. Ele tocou-lhe meigamente com os dedos, fazendo com que Cat sentisse uma onda de sensações, subir por todo o seu corpo.
As mãos de Cat procuraram o pénis de João, guiando-o até si.
Sentiu-o penetrar na sua vagina, deixando o prazer invadir o seu corpo na totalidade.
O facto de não haver amor, tornara-a egoísta.
Sentia um grande carinho por João, até porque ele tinha um olhar de miúdo meigo e assustado, que contrastava com a sua maneira segura de agir.
Mas para ela apenas importava o seu próprio prazer.
Era uma fase de libertação.
Sempre que tivera um namorado por quem estava apaixonada, fora generosa demais, mas agora começava a gostar cada vez mais de fazer as coisas só pelo seu próprio prazer.
Por vezes, para nos encontrarmos a nós próprios, basta quebrar algumas regras que nos auto-impusemos.
Todas as regras são feitas para serem quebradas em alguma altura, e quem terá mais direito a isso do que quem as criou?....






terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O fogo


Junho.
A relação de Cat com Melro tinha acabado, mas ele insistia em encontros cada vez mais inoportunos.
Sempre que tentava dizer-lhe que ficava incomodada com a insistência, ele olhava para ela com os seus olhos de cãozinho triste, deixando-a desarmada.
Acedeu mais uma vez em encontrar-se com ele para jantar.
Ele pediu que fossem a casa dele, em vez de irem a um restaurante.
Não querendo magoa-lo, disse que sim, relembrando-o que eram apenas amigos.
Ele foi busca-la.
Ao chegarem a casa, serviu-lhe uma sangria bastante doce e fresca.
Foram conversando e bebendo, enquanto ele fazia o jantar.
Quando começaram, Cat serviu-se mas mal tocou na comida.
Sentia-se um pouco tonta.
O açúcar disfarçara o grau alcoólico da sangria.
Comeu mais um pouco, com esforço, para ver se a sensação passava, mas sem muito sucesso.
Pediu-lhe para saírem por um momento, para poder apanhar um pouco de ar fresco.
Quando ia a passar por ele, para sair da mesa ele estendeu a mão e acariciou-a no pescoço.
Ela recuou, batendo com as costas na parede.
Ele levantou-se, avançando para ela tentando beijar-lhe os lábios.
O olhar dele assustou-a.
Já não era de caramelo, mas de um castanho vivo, com um laivo de raiva contida.
Desviou a cara e sentiu a mão dele no seu pescoço, descendo para o ombro por dentro da roupa.
O instinto de defesa tomou conta dela.
Sem ver onde acertava, empurrou-o para longe, com os joelhos e os braços e saiu de casa dele de rompante.
Lembrou-se que não tinha a mala com ela.
Voltou para trás e viu-o sentado, dobrado sobre si, emitindo pequenos gemidos de dor.
Agarrou na mala e saiu novamente.
A noite fazia as sombras das árvores avançar sobre ela, à medida que seguia com rapidez na berma da estrada.
No acesso até à estrada principal, não viu luzes que pudessem indicar que ele a seguira, mesmo assim seguiu por dentro da vegetação para evitar ser vista.
O calçado não era o indicado. Ia tão enraivecida que nem sentia as picadas das silvas, invisíveis no meio da escuridão.
Viu ao longe a estrada principal, onde existia um pequeno café.
Apressou o passo.
Queria lá chegar antes de pensar a quem poderia ligar para pedir boleia.

O fogo deve ser libertado em pequenas doses como se fossem fósforos.
Milhares de fósforos acesos simultaneamente, são impossíveis de controlar, provocando um enorme incêndio.















segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Os pequenos gestos



Seguindo a historia da nossa amiga Cat.

O vicio ficou.
Depois da aventura com João a saudade do cheiro e do calor de outro corpo colado no seu.
Tentar controlar essas sensações era como tentar fechar uma garrafa de champagne depois agitada.
Decidiu ser verdadeira consigo própria e não o tentar.
Há quatro anos conhecera acidentalmente Paulo Melro.
Ele sempre demonstrara por ela um interesse alem de amizade, mas ela nunca lhe dera qualquer hipótese.
Melro aparecia de tempos a tempos, sempre com o seu ar de cãozinho triste, para irem beber um café.
Era uma pessoa sem fogo aparente.
Todos os seus gestos pareciam limados, sempre com medo duma atitude que pudesse ser mais ousada.
Cabelo negro, olhos doces, cor de caramelo e um corpo com músculos bem delineados, não era desagradável no conjunto, mas o olhar não tinha brilho.
Em algumas ocasiões, parecia que havia ainda uma réstia de chama, mas logo voltava ao mesmo olhar enjoativo de caramelo devoto.
O instinto de Cat, sempre seguro, desta vez não a deixava ter certezas para tomar uma decisão.
Tinha alguma esperança que com o estímulo correcto, ele poderia sair desse marasmo.
A curiosidade acerca dele começou a aumentar, proporcional à frequencia dos encontros.
Deixou passar algum tempo.
Começou a dar atenção a pequenos gestos involuntários, como um ajeitar nervoso do cabelo quando ela o olhava nos olhos, a maneira como parecia engolir em seco, quando no meio de uma conversa mais animada ela lhe tocava no ombro, ou um leve rubor quando o cumprimentava à chegada.
Esse dia tinha sido especialmente cansativo no trabalho e Cat estava decidida a esquece-lo.
Quando o telemóvel tocou, saiu a correr do duche, encharcando o chão à sua passagem.
O frio cortava a pele molhada, mesmo dentro de casa, fazendo-a tremer.
Quando Melro a convidou para tomar mais um dos já numerosos cafés, decidiu mudar um pouco o destino e convidou-o para vir a sua casa.
Ele chegou sem quase lhe dar tempo de se vestir.
Convidou-o para entrar e ele inclinou-se para lhe beijar a face.
Sózinhos na sala, sentaram-se no sofá, num silencio um pouco incomodativo.
Ao fim de alguns instantes, ele sempre preocupado disse: - Não te incomoda o cabelo molhado com este frio?
Cat mostrou a nuca molhada e Melro encostou timidamente a mão.
- Estás tão fria!
- A tua mão á que está muito quente.
Ele deixou-a ficar por um momento, retirando-a quase de seguida.
Cat olhou para ele e sorriu.
- Agora que estava tão bom é que tiraste a mão...
Ele olhou para ela com ar de quem não sabia como reagir.
Cat aproximou-se dele devagarinho e puxou-o para ela, abraçando-o.
- Assim estás a provocar-me e não devias se não queres nada comigo.
- Mas quem disse que não quero?
Ele olhou para ela incrédulo.
- Tens dito sempre que não durante este tempo todo, pelo menos é o que tenho notado pelas tuas reações.
- O que tenho dito sempre e mantenho, é que continuo presa a outra pessoa, por isso não estou apaixonada por ti, o que não invalida que nos possamos relacionar fisicamente.
- Só fisicamente?
- Sim.
Ele ficou estático a olhar para Cat.
Os olhos de caramelo continuavam doces.
Cat não viu a esperada faísca, nem mesmo um ténue brilho.
Durante o tempo que estiveram juntos, todos os pequenos gestos que eram involuntários evoluiram.
Primeiro começou a reparar neles apesar de a enervarem um pouco.
Depois começou por lhes achar piada, pois eram a única forma de saber se ele estava feliz ou nervoso.
Ao fim de algum tempo, começou a desejar que não os fizesse, pois sendo a única forma de reacção, começaram a ficar grandes demais para serem apenas pequenos gestos, passando a grandes tiques nervosos.
Não deixem nunca que as bofetadas que levamos da vida nos inibam a expressão corporal.
A maior expressão da nossa alma, não é a palavra. São todos os nossos pequenos grandes gestos.






domingo, 24 de fevereiro de 2008

Magia do sexo


Não há verdades absolutas, apenas as minhas opiniões acerca de factos passados a que assisti, directa ou indirectamente.
Quando encontramos e reconhecemos a nossa alma gémea, nem sempre o nosso destino será ficar com ela nessa altura.
Ficamos assim com a alma presa, pois apesar de a reconhecermos como o nosso par, sabemos que os nossos estados de evoluçao não são iguais, e por isso um de nós tem que evoluir sozinho em vivencias diferentes.
Mas apesar de amarmos essa pessoa o suficiente para ficarmos felizes, só de a ver feliz, mesmo que com outra pessoa, durante um tempo temos o nosso periodo de "não vida".
A "não vida" é uma altura em que nos deixamos simplesmente ficar, sem ter vontade de ter relacionamentos com outras pessoas que não sejam a que nós amamos.
Já vi periodos de "não vida" durarem minutos, dias, meses e até anos.
O que aqui relato durou oito anos.
Cat é a nossa heroina.
Oito anos sem sexo, abraços, ou mesmo um unico beijo na boca.
Foi muito tempo... o que criou um hábito de defesa.
Não permitia a entrada de homens num perimetro que não fosse o da amizade.
Até conhecer uma pessoa especial.
Bandido por natureza, tem fama de conseguir todas as mulheres que quer.... e ele quer muitas.
Fisicamente, nada de especial.
Pele morena, olhos verdes e uma estatura um pouco baixa e robusta.
Podemos chamar-lhe João.
João não estava dentro do tipo de homens que habitualmente atraia Cat.
Conheceram-se no MSN, por intermédio de um amigo comum e começaram a falar.
As conversas foram ficando cada vez mais intimas, pois o facto de as pessoas não se olharem nos olhos consegue quebrar alguns tabus, que existem numa convivencia normal.
Estas novas formas de contacto são sempre ambiguas. Por um lado existe o perigo de não sabermos quem está do outro lado, por outro a facilidade em contar coisas que pessoalmente nunca seriam ditas.
Mas o interesse de Cat não era real. Apenas se começava a sentir viva, por haver um flirt com uma pessoa que ela sabia dizer exactamente o que precisava de ouvir.
João é especial, exactamente por isso.
Mesmo tendo perfeita consciencia que estava a ser seduzida, Cat começou a sentir-se bem em baixar as defesas finalmente.
Na véspera de Natal, decidiu ligar-lhe para desejar um Bom Natal.
Finalmente, o contacto auditivo.
Não tinha uma voz tão segura, como o discurso escrito, mas a jovialidade dessa voz fazia-a desejar deixar de ter medo do contacto.
Deixou passar algum tempo e finalmente encontraram-se de novo no MSN.
Cat pensou não ter nada a perder e conheceram-se pessoalmente nesse mesmo dia, com a segurança confortável de estarem com mais alguns amigos.
Faltavam duas noites para a passagem de ano.
Ao primeiro contacto Cat manteve o desejo.
Estudou o cheiro, o olhar, a linguagem corporal.
João o bandido, afinal não era mais que um miudo assustado.
Mas um miudo sexy e atraente.
Pensou como afinal gostaria que o encontro tivesse sido em privado.
Não houve muito assunto, somente a análise da expressão.
Quando o encontro acabou, Cat ficou um pouco insegura.
O medo de não ter agradado começou a passar pela sua cabeça, fruto de todos os anos sem contacto fisico.
O que parece ser a nossa melhor defesa, deixa feridas graves na nossa autoestima.
Passaram dois dias.
Era a noite da passagem de ano 2006/2007.
Foi uma noite um pouco melancólica para Cat, por isso decidiu deitar-se a seguir à meia noite.
Já tinha deixado de pensar em João, convencendo-se que ele tinha ficado desiludido de alguma forma.
Às três e meia da madrugada o som do telemóvel fez Cat acordar.
Era João.
-Posso ir ter a tua casa?
A pergunta fez Cat ficar com o batimento cardiaco acelerado como se fosse um guerreiro e se preparasse para entrar numa batalha.
Acedeu.
Não fizeram amor. Fizeram sexo.
Sem medo das palavras e das recriminações de uma relação, o sexo não é uma coisa feia.
As más intenções e o mau sentido do sexo é a nossa sociedade hipócrita que os cria.
Não existe mal nenhum em fazer sexo só porque sim.
Sexo não é nem o que nos motiva, nem o fim do mundo, mas sim e apenas duas (ou mais) pessoas que precisam de se sentir tocadas e tocar, sem preconceitos ou falsas morais.
A vantagem que Cat tirou dessa noite, foi que a sua autoestima ficou quase refeita.
A desvantagem foi que a sensação de euforia que provoca, é viciante.
Mas mesmo com essa pequena desvantagem.... Obrigada João, por teres deixado a Cat viva de novo.